A vantagem de ter um passado

Se há uma grande vantagem dos veículos tradicionais sobre os nativos digitais, na guerra pela audiência, é o banco de dados, a memória, a história.

O Correio do Povo (Porto Alegre, RS), fundado em 1895, conseguiu na capa de hoje colocar lado a lado o passado e o presente, em uma comparação que o deixou único frente à concorrência.

Se em 1934 o Zeppelin sobrevoou Porto Alegre, ontem um dirigível passeava pela cidade, fazendo lobby junto ao South Summit, que começa hoje. O CP tinha a imagem histórica e conseguiu fazer a leitura da comparação.

Esse é o tipo de história que só os veículos com passado podem apresentar.

O drama dos índios brasileiros

A tragédia dos Yanomami saiu das capas dos jornais brasileiros - mas agora aparece em outros países. O International The New York Times (Londres, UK), edição mundial do tradicional impresso americano, traz matéria sobre os índios brasileiros: O Flagelo de uma Tribo Isolada.

O descaso com a causa indígena do governo anterior (2019/2022) ainda revolta o mundo e preocupa os direitos humanos. É preciso deixar o assunto em pauta até que a saúde dos índios esteja plenamente recuperada - em toda a tribo.

A anatomia dos vários ângulos de uma mesma imagem

A imagem conta um mesmo fato em várias versões, dependendo do ponto de vista.

A greve nos metrôs de São Paulo está nas capas dos maiores impressos do país. Mas cada um com sua interpretação.

Folha de S. Paulo (SP) mostra a multidão disputando espaço para entrar na escada rolante. Transmite a ideia de confusão. O Estado de S. Paulo (SP) publica foto de pessoas de costas, com uma luz contrária. É um momento de muita gente, mas de maneira organizada. Já O Globo (Rio de Janeiro, RJ) prefere o plano aberto, onde se vêem os trens limitando o espaço das pessoas.

Não há certo ou errado. São várias visões de um mesmo tema.

 

A arte de ser Jornalista

O jornalismo é uma arte sem limites.

Para contar histórias a tecnologia nos oferece todas as ferramentas possíveis e imaginárias. Mas, às vezes, o mais simples funciona melhor.

O eterno repórter Martín Caparrós, argentino radicado na Espanha - terra de seu pai, foi homenageado com o Premio Ortega y Gasset, promovido por El País (Madri, Espanha).

Caparrós escreve no El País, é verdade, mas seu talento vai muito além. E a prova está na maneira como agradeceu o reconhecimento.

O jornalista declamou em versos gauchescos, no melhor estilo "Martín Fierro", a honraria. Fez uma análise do que é ser jornalista - tal como Gabriel García Márquez imortalizou em "A melhor Profissão do Mundo".

Absolutamente genial a fala de Caparrós. Vale cada segundo.

100 anos de Revista Time

A Time (Nova York, NY) foi a principal revista do mundo, lá nos anos 80. Era copiada no mundo inteiro - inclusive no Brasil. A capa do "Homem do Ano" repercutia pelos quatro cantos.

Com a digitalização do mundo, a Time perdeu relevância. Mas não deixou de circular. Hoje é um objeto para fãs fieis, em número bastante reduzido. Mas segue na agenda informativa.

O aniversário de 100 anos da Time está imortalizado em uma linda capa.

O fim de O Fluminense

Foram 144 anos de vidaa nas terras protegidas por Martim Afonso de Sousa, o Arariboia. Mas desde 04 de março O Fluminense (Niteroi, RJ) não circula mais, nem impresso, nem digital. As contas no negativo atrasaram pagamentos de funcionários. E agora parece não ter mais solução.

Triste fim de um pioneiro.

Inteligência Artificial chegou de vez na imprensa

A capa de Marca (Madri, Espanha) saiu em fevereiro - e foi a primeira de um veículo de grande circulação desenhada por inteligência artificial.

Já a capa da Time (Nova York, NY) saiu nessa semana e mostra um diálogo entre um humano e o bot do chatGPT.

Ontem, o CEO do grupo alemão Axel Springer, Mathias Doepfner, anunciou que ferramentas de IA vão substituir jornalistas nas redações de Bild e Die Welt.

A Inteligência Artificial chegou de vez nas empresas de comunicação. É preciso ter muito cuidado com esse inevitável movimento. Só o talento humano diferencia um bom veículo de um medíocre.

Faltou diretor de arte

Os artistas gráficos do México são excelentes.

Talvez nascidos na escola de grandes nomes como Diego Rivera e Frida Kahlo, os mexicanos são reconhecidos no mundo inteiro como extremamente criativos nas artes gráficas, inclusive em jornais e revistas. É normal encontrar algum mexicano na direção de arte de veículos de comunicação de outros países.

Mas algo acontece com Reforma (Cidade do México, México). Um dos principais impressos do país, Reforma parece estar órfão de um bom diretor de arte. Ou não teria cometido essa capa amadora de hoje.

Por que aplicar o texto de uma segunda chamada sobre a foto principal?

Não há nenhuma justificativa. Reforma precisa de um bom diretor de arte.

Vídeo revela o lado de dentro de El Tiempo

 O líder colombiano El Tiempo (Bogotá, Colômbia) comemorou 112 em Fevereiro.

E como a mágica da produção de um diário rende sempre boas imagens - ainda mais em uma empresa integrada com TV - o jornal colombiano lançou um interessante vídeo de 112 segundos, revelando o que se passa dentro da empresa em um dia comum.

Vale assistir.

Sempre em busca de algo novo

A Guerra entre Rússia e Ucrânia completa um ano.

A imprensa precisa registrar esse infeliz aniversário, mas sempre é possível encontrar alguma forma surpreendente.

The Times (Londres, UK) descobriu a ucraniana que fugiu grávida das bombas. E produziu uma linda foto de capa.

Alerta vermelho!

 

O modelo de negócios adotado pela grande maioria dos meios de comunicação relevantes do Brasil está dando sinais de esgotamento. O reader revenue, receita que vem da audiência, está quase estável, sem crescimento. A estratégia das assinaturas digitais patina, não se transforma em algo sustentável. Os índices são pífios, sinal de que alguma coisa está errada - possivelmente os resquícios das lógicas que funcionaram até 10 anos atrás nos impressos.

O levantamento do Poder360 (Brasília, DF) a partir de dados do IVC é um alerta. Enquanto a circulação dos impressos segue despencando, os números da conversão de assinantes para o meio digital se estabilizou, cresce muito pouco. E aí a conta não fecha.

Todos os veículos pesquisados adotam o paywall metered (poroso) que lamentavelmente não funciona no mercado brasileiro (talvez para um ou dois líderes, talvez). Só que há outras maneiras de rentabilizar. El País (Madri, Espanha) utiliza o paywall freemium, com ótimos resultados. The Guardian (Londres, UK) a estratégia de membership, com mais de um milhão de membros. As duas estratégias são ignoradas no Brasil.

Está faltando uma análise mais severa dos números e das perspectivas. O fracasso das estratégias digitais nos meios brasileiros está muito perto de ser realidade.

Informação irrelevante, títulos primários

Só pode ser orientação do "andar de cima".

Os dois impressos do Grupo RBS cometem a mesma derrapada ao considerarem uma partida de futebol ocorrida sábado à tarde (Internacional 4 x 0 São Luiz) com o mesmo peso na capa de segunda-feira de um jogo de domingo à noite (São José 0 x 1 Grêmio). O intervalo de tempo de mais de 24 horas inexiste para Zero Hora (Porto Alegre, RS) e Diário Gaúcho (Porto Alegre, RS).

Pior, os títulos são pobres, acrescentam quase nada, de uma ingenuidade impressionante (Primeira Vitória, Terceira Vitória, Time 100%). Não há nada que justifique essa decisão, que era habitual nos anos 90, quando a Internet ainda era um bebê. Hoje, 30 anos mais tarde, parece uma piada.

Poucos são os impressos no mundo que ainda destacam com tanta força o futebol de domingo nas capas de segunda-feira (exceto, é claro, em uma decisão). Mas jogos disputados sábados na capa de segunda, provavelmente, são exclusividade do Rio Grande do Sul.

Homenagens em preto e branco

São 10 anos da tragédia que comoveu o Brasil. 242 mortos trancados dentro da Boate Kiss, em Santa Maria. Jovens. Intoxicados. Queimados. Encurralados.

O Correio do Povo (Porto Alegre, RS) saiu com uma capa histórica, fundo preto, com os 242 nomes das vítimas.

Já o local Diário de Santa Maria (Santa Maria, RS) produziu uma capa falsa branca, para recordar os mortos.

Dia de pensar como impedir que novas tragédias não aconteçam.

 

Novo ano, piloto automático antigo

 

O maior jornal do Sul do Brasil deveria entender o ano em que vivemos e tudo o que aconteceu nos últimos 20 anos em relação aos veículos de comunicação. Poderia começar aceitando que a Internet é uma realidade.

Se fizesse isso, o Zero Hora (Porto Alegre, RS) não teria dado como espaço mais destacado de sua capa de hoje (segunda-feira) fotos bem abertas de jogos de futebol que ocorreram....sábado. Não se justifica sob nenhuma hipótese.

Pior, o impresso ainda segue com a absurda norma de "equilibrar" os espaços entre as duas grandes equipes locais, independentemente dos fatos e dos desempenhos.

Isto chama-se piloto automático. Um convite aos raros leitores deixarem de assinar o produto.

Há muito que ZH repete esse mesmo equívoco. E insiste nesse erro básico de quem não entende o mundo de suas audiências. Mudou o ano, permaneceu o piloto automático.

Daniel Alves e as reações à prisão

Daniel Alves é um personagem. E está na cadeia. Ídolo na Espanha, onde defendeu o Barcelona por muitos anos, vergonha no México, onde tentou atuar pelo Pumas, não funcionou e ontem foi demitido por justa causa.

Ás (Madri, Espanha) e Sport (Barcelona, Espanha) estão tristes. Esto (Cidade do México, México) e Cancha (Cidade do México, México) decepcionados.

 

Não pegou bem a ideia da Folha

A Folha de S. Paulo (SP) saiu hoje com uma montagem (múltipla exposição) sugerindo a ideia de um tiro no coração do presidente. A obra é da competente foto-repórter Gabriela Biló.

Mas se a ideia parece criativa, a repercussão foi péssima. Em momentos de extremos e extremistas, poucos dias depois do maior atentado aos Três Poderes desde a República, não é uma boa sacada sugerir o alvo que aparece na imagem. 

É fake. Mas tem quem acredita. Uma multidão confia na desinformação. As redes de mal-intencionados ajudam a criar o caos.

Bola fora da Folha.

Terrorismo em Brasilia ainda repercute no mundo

O ataque à democracia no Brasil segue repercutindo no mundo. E já aparecem elogios ao Governo Lula, pela forma como conduziu o processo para sair da crise.

El País (Madri, Espanha), Frankfurter Allgemeine (Frankfurt, Alemanha), Le Monde (Paris, França) e The Washignton Post (Washington, DC) seguem atentos ao Brasil.

 

O mundo olha o Brasil com preocupação

A imagem do Brasil só ficou mais arranhada depois dos ataques golpista de ontem em Brasília. Nas mais importantes capas do mundo.

O planeta espera que os responsáveis sejam punidos. O Brasil também.

Que vergonha!

 

Dia de tomar posição

A barbárie cometida por terroristas alinhados com políticos da extrema-direita ontem, em Brasília, não pode ter perdão ou acordos. Foi o mais absurdo ato antidemocrático da história recente do país, com a conivência de quem deveria impedir - por obrigação constitucional.

O jornalismo precisa se posicionar, condenar, não tratar o terrorismo como se fosse algo "normal", corriqueiro.

Hoje A Tarde (Salvador, BA), O Estado de S. Paulo (SP), Estado de Minas (Belo Horizonte, MG) e Extra (Rio de Janeiro, RJ) conseguem ir mais longe que seus concorrentes. O mais importante foi deixar claro a posição. Sem economizar adjetivos duros.