Só os bons jornalistas têm sorte

Ruth de Aquino é uma das melhores jornalistas do Brasil.

Em seu currículo passagens brilhantes pelos maiores jornais do Rio de Janeiro, uma temporada em Londres e os melhores textos da revista Época (SP).

Na edição desta semana da semanal, Ruth surpreende os leitores ao entrevistar o traficante Nem, preso em uma curiosa operação no Rio.

Ruth não entrou na prisão.

Ela subiu a Rocinha no fim de semana passado e conversou com Nem - dias antes da prisão.

Sorte? Só os competentes têm sorte.

A saborosa matéria está no link http://revistaepoca.globo.com/tempo/noticia/2011/11/meu-encontro-com-nem.html

E agora, Itália?

O jornal econômico Milano Finanza (Milão, Itália) foi o único que conseguiu traduzir hoje o sentimento do cidadão italiano.

A semana foi de demissão anunciada de Silvio Berlusconi e de construção de um pacto para que o economista Mario Monti seja o primeiro-ministro.

Só que o cidadão quer mais, quer ação. O país está quebrado, o desemprego ameaça crescer, enfim, o italiano não aguenta mais falar de política sem que ninguém se preocupe verdadeiramente com o bem estar daquela que já foi a sétima economia do mundo (posto perdido para o Brasil).

Veio de um jornal econômico a melhor avaliação do país.

E agora?

Carta para Chico

Chico Buarque tocou em Belo Horizonte na semana passada.

Chico é um mito. O melhor músico do Brasil.

O jornal Estado de Minas (Belo Horizonte, MG) aproveitou o gancho da presença do gênio em terras mineiras e aventurou-se em navegar pelos poemas de suas músicas, sem perder o cunho jornalístico da informação.

O resultado é genial.

A criatividade inteligente venceu.

PS: a edição é de sábado, mas boas ideias não têm data de validade.

O segundo clichê salvador

Por muito pouco O Globo (Rio de Janeiro, RJ) não paga um mico histórico.

O primeiro clichê do jornal carioca destaca a prisão de policiais em uma operação na Rocinha.

Acontece que enquanto a edição de O Globo passava pela rotativa, o traficante número 1 do Rio estava sendo preso. Na mesma Rocinha.

O segundo clichê foi a solução.

Mesmo assim alguns milhares de exemplares saíram às ruas com a edição micada.

Os italianos e o "capo"

O primeiro-minstro da Itália Silvio Berlusconi anunciou ontem que renunciará em breve.

Os três principais jornais parecem ter combinado a leitura.

La Repubblica (Roma, Itália), Corriere della Sera (Milão, Itália) e La Stampa (Turim, Itália) são factuais, factuais e factuais.

O jornal da direita Secolo D'Italia (Roma, Itália) faz uma defesa dos parlamentares que optaram pelo voto de confiança a Berlusconi. "Eu não traí", diz a manchete forte, com a lista de quem votou com o "capo".

E mesmo o jornal que pertence ao grupo econômico de Berlusconi, Il Giornale (Milão, Itália), tenta ser ameno, mas não resiste às fotos dos parlamentares que mudaram o voto desde a última confirmação do premiê e ataca: "Os Judas que apunhalaram o governo".

Ou seja, é permitido tomar partido, ter opinião. Curioso é que os grandes jornais do país não fizeram isso, mesmo que a demissão de Berlusconi tenha sido comemorada na grande maioria dos lares italianos.

Correio* mais surpreendente, A Tarde mais útil

O dilúvio que inundou Salvador recebeu duas visões bem particulares da imprensa baiana.

O Correio* (Salvador, BA) investiu na linda imagem da ótima repórter fotográfica Marina Silva e revelou o Largo da Mariquita como soteropolitano algum já tinha visto.

Mas A Tarde (Salvador, BA) foi mais útil ao leitor. O mega engarrafamento mereceu ser o grande destaque do dia.

A chuva foi a causa, o trânsito a consequência.

Gato escaldado sem medo de água

Os espanhois não aprendem. Misturam torcida com seriedade jornalística.

Nas eleições de 2004, a imprensa decretava o conservador Mariano Rajoy presidente do Conselho de Ministros (na prática, o primeiro-ministro). Só que 3 dias antes das urnas, bombas explodiram em Madri e mudaram o rumo das eleições. Jose Luis Zapatero vencia de surpresa.

Agora Rajoy - sempre ele - é favoritaço frente a Alfredo Rubacalba (PSOE), para as eleições de 20 de novembro. Mas na Espanha nem sempre as coisas acontecem conforme as pesquisas. Mesmo assim os jornais estão coroando Rajoy.

Os conservadores El Mundo (Madri, Espanha), La Razón (Madri, Espanha) e ABC (Madri, Espanha) não tentam nem disfarçar.

El País (Madri, Espanha), La Vanguardia (Barcelona, Espanha) e El Periódico (Barcelona, Espanha) colocam um pé atrás, sutilmente.

E o centro-esquerda Público (Madri, Espanha) busca um último fôlego de seu candidato.

A lição de 2004 parece não ter servido para a imprensa espanhola.