Imprima essa Página Mídia Mundo: 2018-12-30

sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

Extra faz a leitura perfeita do momento


Enquanto a ministra da goiabeira fala em azul/vermelho, Extra (Rio de Janeiro, RJ) firma posição sem deixar dúvidas.

Genial.

A mesma foto de novo


A troca do letreiro no Ministério da Economia ganhou capa dos três jornalões.

Pouca criatividade, muita previsibilidade.

Está nas capas de Folha de S. Paulo (SP), O Estado de S. Paulo (SP) e O Globo (Rio de Janeiro, RJ). Outra vez a mesma imagem.


quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

O jornalismo clone e a anatomia de uma foto



A foto de capa de Folha de S. Paulo (SP) e de O Estado de S. Paulo (SP) é rigorosamente a mesma, apesar de terem sido disparadas (opa) por repórteres-fotográficos distintos.

Isso significa que nada mais previsível que a capa de um jornalão. Nenhuma referência (salvo Mônica Bergamo) ao caos como foram tratados os jornalistas ontem. Se você fosse dono de um jornal e a segurança impedisse um funcionário seu de trabalhar livremente, o mínimo que você faria seria publicar na capa uma nota de repúdio. Mas não.

A foto em questão é típica do candidato-polêmico-que-virou-presidente. Indicadores contra ele mesmo. Só compete com as imagens da imitação de arma, ainda dentro do Rolls-Royce.

Mas a foto permite outras leituras. Como a seguir.


Agora (SP) corta só no presidente. O foco é na faixa e nos dedos de Bolsonaro.

O Popular (Goiânia, GO) publica todo o quadro, inclusive com os aplausos do ex-presidente.

Uma mesma imagem com três leituras.
 
PS: obrigado ao olhar atento de Nelson Nunes
  

terça-feira, 1 de janeiro de 2019

Ficou mais difícil ser jornalista


Feliz 2019!!!

Ou Feliz Luta para manter-se jornalista em tempos de dureza contra a profissão.

As capas de hoje são todas muito normais, por isso segue a primeira página de domingo do Le Monde (Paris, França) anunciando a chegada da extrema-direita ao poder no Brasil.

E o link da coluna de Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo (SP) sobre o terror de cobrir a posse do novo presidente seguindo regras de maus e arrogantes profissionais (segue o texto aberto abaixo).

Lamentável!

Tomara que os jornais brasileiros tenham caráter (e um pouco de coragem) para denunciar esses absurdos, tal qual Mônica.


Um dia de cão

Jornalistas conseguem rir das precárias condições da cobertura da posse de Bolsonaro

É uma posse diferenciada e todos têm que entender isso.
Com essas palavras, a assessora do Palácio do Planalto que acompanhava jornalistas num ônibus rumo ao Congresso Nacional, na manhã desta terça (1º), procurava acalmar veteranos da profissão (esta colunista entre eles) que não conseguiam, digamos, entender os novos tempos —e o tratamento reservado à imprensa na posse de Jair Bolsonaro na Presidência da República.
Foi, de fato, algo jamais visto depois da redemocratização do país, em que a estreia de um novo governo eleito era sempre uma festa acompanhada de perto, e com quase total liberdade de locomoção, pelos profissionais da imprensa.
O sufoco começou dias antes, no credenciamento.
Jornalistas no chão do plenário do salão verde
Jornalistas no chão do plenário do salão verde - Mônica Bergamo/Folhapress
Os jornalistas foram informados de que não poderiam ter acesso livre, por exemplo, ao salão nobre do Palácio do Planalto, onde o presidente sobe a rampa, dá posse aos seus ministros e recebe cumprimentos de autoridades internacionais.
Na posse de Lula, em 2003, repórteres chegavam a se aglomerar em torno dele e de Fernando Henrique Cardoso, misturando-se entre a equipe recém-empossada e a que deixava o governo.
Um dos repórteres lembrava, no ônibus, que chegou a subir no elevador do Planalto com Lula, furando um esquema nada rigoroso de segurança.
A colunista chegou a entrar em salas privadas com o então vice-presidente dos EUA Joe Biden na posse de Dilma Rousseff, em 2014.
Desta vez, tudo seria diferente. Apenas um jornalista de cada veículopoderia entrar no palácio, e com acesso restrito às autoridades.
Os outros ficariam do lado de fora, na portaria ou num corredor aberto no meio da população. E a assessoria alertava: neste local, era preciso evitar movimentos bruscos. Fotógrafos não deveriam erguer suas máquinas. Qualquer movimento suspeito poderia levar um sniper [atirador de elite] a abater o "alvo".
Jornalistas no chão do plenário do salão verde
Jornalistas no chão do plenário do salão verde - Mônica Bergamo/Folhapress
Uma jornalista voltou apavorada para a redação. Avisou à chefia que preferia não cobrir a posse. Não queria morrer. Foi convencida do contrário.
Os organizadores da cerimônia também distribuíram orientações por escrito à imprensa: os jornalistas credenciados deveriam chegar ao CCBB (Centro Cultural do Banco do Brasil), no dia 1º, às 7 horas da manhã.
Como é que é? 
Era isso mesmo: embora a posse no Congresso estivesse marcada para as 15 horas, os jornalistas teriam que se concentrar desde cedo, embarcar nos ônibus às 8 horas, chegar no Congresso pouco depois e esperar, sem fazer nada, por mais de seis horas, para ver Bolsonaro entrar no parlamento.
Era preciso levar lanche pois não haveria comida. Tudo precisava ser embalado em sacos de plástico transparente.
"Garrafas não são permitidas. Haverá água potável disponível nas áreas de imprensa", dizia o comunicado.
Os veículos providenciaram kits de sobrevivência para seus profissionais. No caso da Folha, bolachas Club Social, biscoitos Bis, castanhas de caju, barrinhas de cereal, gomas de mascar, um sanduíche de queijo e salame e suco de caixinha.
Na terça (1º), logo cedo, os jornalistas, seguindo as regras, chegaram cedo ao CCBB.
Foram todos divididos em grupos, em cercadinhos com grades de ferro: os que iriam para o Congresso sairiam primeiro, depois os do Palácio do Planalto e, por fim, os do Itamaraty.
"Pessoal, vocês vão em 13 ônibus. Às 17 horas, nós traremos vocês de volta", gritava um assessor que se apresentou como Tiago.
E quem quisesse ficar mais?
"Pessoal, [os seguranças] não vão deixar vocês passarem [nas ruas]. O direito de ir e vir dos jornalistas tá assim!".
Os repórteres caíram na risada.
Apesar da situação, considerada um tanto surreal, havia motivo para risos. Um deles era a proibição de levar maçã inteira na merenda. Só picada, em pedacinhos.
"Razões de segurança: acham que alguém pode jogar uma delas na cabeça do Bolsonaro. E maçã machuca", explicava um dos profissionais.
Em fila, todos começaram a embarcar nos ônibus.
"Bem-vindos à rodoviária do CCBB", dizia o assessor que iria em um dos veículos.
Os alertas eram muitos. "Não tentem subir na Esplanada [dos Ministérios, avenida que leva à Praça dos Três Poderes]. Não tentem passar de uma área à outra. E, mais importante: não tentem pular uma cerca. Não façam isso!"
 
"A gente tem que avisar. Porque depois alguém toma um tiro...", completava outra assessora.
"O que nós viramos?", questionava um veterano jornalista. "Fizemos tudo o que já fizemos para terminar aqui?"
Pouco depois das 8 horas, o comboio de ônibus sai até o Congresso, onde novas surpresas nos esperavam. Ao chegar no parlamento, os repórteres passaram por detectores de metais.
E foram levados ao salão verde da Câmara dos Deputados, na entrada do plenário.
"É surreal!", reagiu um jornalista ao ver a cena: todas as cadeiras e poltronas do local haviam sido retiradas. Não havia onde sentar. Os profissionais tinham que se acomodar no chão.
Eram centenas de jornalistas, mas só havia um banheiro disponível.
 
Alguns se dirigiram ao setor do cafezinho. Um segurança logo orientou as copeiras: "Não é para servir nada à imprensa".
Os profissionais foram convidados a se retirar do local.
Teriam que ficar confinados no salão, separados por um cordão da passarela com tapete vermelho por onde passariam as autoridades. 
"É preciso um pouco de dignidade!", reclamava um repórter.
Um deles conseguiu um banquinho para se sentar. E logo começaram as brincadeiras: era preciso fazer rodízio para que todos pudessem descansar um pouco.
Na mesma situação no Itamaraty, correspondentes internacionais chegaram a se retirar do prédio.
Jornalistas com larga experiência em coberturas de governo prognosticavam: essa postura do governo durará pouco. Até a primeira crise.
Mônica Bergamo
Jornalista e colunista.